Em artigo publicado no Foreign Affairs em agosto de 1994, o economista Professor Lester Salamon afirmava que o surgimento de ONGs configurava uma “revolução associativa global” que poderia ser tão significativa para o final do Século XX, quanto o fora a ascensão do Estado Nação para o final do Século XIX. Falava-nos do impressionante crescimento de um novo setor da economia, o “terceiro setor” ou setor “sem fins lucrativos”, constituído pelas organizações não governamentais.
Mencionava
ainda, a proliferação das organizações não governamentais como decorrência de
“um conjunto bem definido de transformações sociais e tecnológicas” bem como,
de “uma lentamente aquecida crise de confiança na capacidade do Estado”.
Salamon
enquanto Diretor do Centro de Estudos da Sociedade Civil da Johns Hopkins
University nos Estados Unidos coordenou uma pesquisa sobre o terceiro setor em
22 países, incluindo o Brasil e ao considerar as nações pesquisadas constatou
que esse segmento constitui-se numa verdadeira indústria que movimentara US$
1,1 trilhão e empregara 19 milhões de pessoas sem contar os voluntários. No
Brasil, o setor não lucrativo no ano base de 1995, movimentou perto de US$ 10,6
bilhões ou 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB). A oferta de emprego nesse
segmento também tende a crescer mais do que em outras áreas e a tendência é de
que o Terceiro Setor fique cada vez mais forte.
Julie
Fischer no Environment em setembro de 1994, analisava o papel das organizações
não governamentais na Ásia, África e América Latina que atuavam de forma a
conter a “crise populacional global”:
. de um lado, as “organizações de
base” que se preocupavam em melhorar e desenvolver suas próprias comunidades;
. do
outro, as “ organizações intermediárias” destinadas a colaborar e a canalizar
recursos para as organizações de base.
Tratava-se
de organizações pequenas e de médio porte que produziam informações, realizavam
pesquisas e trabalhavam no apoio e na assessoria das múltiplas ações coletivas
que constituiriam a base da sociedade civil.
O
trabalho voluntário nos Estados Unidos ganhou ênfase e uma nova dimensão em
1997 quando, o General Colin Powel liderou a colisão ocidental contra o Iraque
na guerra do Golfo, lançando a cruzada contra a pobreza e a falta de
oportunidades que ameaçavam 15 milhões de crianças e adolescentes no país.
Não se
tem notícias do desenlace da proposta, porém esse mesmo general mostrou a
necessidade de se reavivar nos americanos, o gosto pelo trabalho voluntário.
Pronunciava-se
em 1995 a Juíza Auxiliar da 1ª. Vara de Menores do Rio de Janeiro Kátia Maria
Monnerat Daquer dizendo que “o assistencialismo não resolve a questão de
menores de rua mas, até aquele momento não havia visto projeto de pesquisa que
resolvesse o problema”, ao criticar o CEAP – Centro de Articulação de
Populações Marginalizadas e outras organizações não governamentais que se
dedicavam à pesquisa nas áreas de
crianças e adolescentes, preconceito racial, mulheres negras e classes
populares.
Outra
manifestação viera de Wanda Engel da Secretaria de Assistência Social vinculada
ao Ministério da Previdência. Ela criticava o monopólio exercido por grupo de
ONGs com maior visibilidade e acesso à mídia e o estrangulamento de pequenas e
médias organizações. Da concentração destas, nos grandes centros urbanos e em
regiões mais favorecidas por ações do poder público. Sua crítica baseia-se em
levantamento junto à Associação Brasileira de Organizações não governamentais,
no qual verificou que 42% das ONGs filiadas à entidade se concentram na região
Sudeste, na região onde o Brasil é mais rico, seguindo estas, a mesma
distribuição injusta de renda existente no País. (OESP 22.10.01)
Há quem
diga que uma ONG não deve prestar serviços continuados porque sua função é
temática, é de crítica, de desenvolvimento ou implantação de ideias, daí sua
relação com o poder público ser temporária.
Em entrevista ao Jornal o Estado de São Paulo do dia
29.08.2.004 a Professora Maria Carmelita Yazbek da PUC e Vice Presidente do
Conselho Nacional de Assistência Social entre 1.993 e 1.994, período em que
iniciou uma “limpeza” no setor, viu coisas do arco da velha como o de associações
de criadores de cães pastores, sociedades de tênis, escolas, universidades e
hospitais invejavelmente rentáveis, foram registrados como entidades
beneficentes de assistência social, cujo único benefício se referia ao delas próprias
- isenções tributarias.
Lucrecia Anchieschi Gomes
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